quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

SOMOS UM CONSTANTE FLAGRANTE DIANTE DO PAI ETERNO

"Senhor, Tu me sondas e me conheces...ainda a palavra não me chegou á boca e já a conheces toda"
Davi, nos salmo 139

Relendo os salmos dias atrás andei refletindo no que eles mostram claramente: um flagrante da alma humana.

Sim, os salmos são uma abertura do consciente e inconsciente humano registrados por pessoas que se propuseram a buscar a Deus em oração.

É interessante analisar orações. Você já refletiu sobre as suas? Já parou no meio do palavreado e percebeu a idiotice que disse ou o espírito carregado com o qual disse o que falou?

Nos salmos por exemplo observamos até pedido de vingança motivado por um grande desejo e ódio por retribuição da parte vitimada. No salmo 139 mesmo, para não citar muitos outros, temos um exemplo óbvio de uma "queda", uma mudança brusca de espírito que acometeu Davi. Ele começa profundamente bem e lúcido:

"Senhor, tu me sondas e me conheces; conheces meu deitar e meu levantar. Ainda a palavra não me chegou a boca....Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da Tua face? Se tomar as asas da alva e habitar os abismos dos mares, até ali a tua mão me alcançará..........."

DE REPENTE, existe uma reviravolta:

"Tomara desses cabo do perverso...odeio-os com ódio consumado....."

Daí no final, parece que ele se enxerga, discerne a si mesmo, relaxa, se arrepende, respira fundo e.......

"Sonda-me ó Deus; conhece o meu coração; prova-me os pensamentos. Vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno".

Percebeu a oscilação? Compreendeu a tergiversação? Observou a inconstância?
Ela cai da contemplação e adoração sublime para uma baixíssima declaração de ódio consumado e desejo de vingança real, isso tudo numa mesma oração num mesmo momento. Essa queda até parece um enxerto textual de algum escriba mal intencionado tentando estragar a beleza e sublimidade do salmo. Geralmente nós pulamos essa parte nessa leitura e os pregadores não a expõe com clareza. Você já ouviu algum pregador falar sobre o assunto quando traz uma mensagem baseada nesse salmo? Eu nunca vi e provavelmente você também não. Isso porque parece um ser alienígena caindo como um meteoro do céu para a terra. Estranhíssimo.

Contudo, se observarmos tanto esse quanto outros salmos de uma maneira mais abrangente e real, como flagrantes da alma humana, entenderemos essas oscilações abruptas e estanhas. Elas acontecem simplesmente porque a alma ora com sinceridade e expressa tudo o que lhe contém, seja bom ou mau. Daí você encontra nos salmos bem como em nossas orações também, expressões sublimes e outras terríveis; declarações do mais elevado amor e consciência da grandeza de Deus misturadas a intercessão em favor do mal do outros; gratidão singela e leve contrapondo-se a ódios contumazes expressos de maneira irada diante do Altíssimo.

Portanto, sejam os salmistas ou nós, a verdade é que nos entregamos em nossas orações sinceras diante do Altíssimo.

Nós nos entregamos! Confessamos até inconscientemente! O mal contido vaza por meio das mais belas palavras de aparente piedade!

Por isso, os salmos não são palavra de Deus vinda da boca dele e sim palavras de homens de Deus expressando tudo o que havia em suas almas. Se tornam palavra de Deus para nós porque são Escritura-Revelação da alma humana e também de compreensão espiritual que esses homens tiveram acerca do Senhor  e da sua vontade. Mas Deus não escreveu os salmos e sim os homens. Homens esses que ora cheios do Espírito do Senhor diziam palavras preciosíssimas, mas em outros momentos cheios de ira e ódio pediam que Deus matasse seus inimigos, como Davi aqui, nesse e em outros salmos.

Se escrevêssemos nossas orações também teríamos salmos parecidos com esses; ora cheios de revelação e sabedoria divinas, mas em outros momentos repletos de carnalidade pura e terrível sobre a qual Deus se vira e diz: "É ele quem fala; eu não estou dizendo nada disso. Não confundam, por favor!".

Você tem prestado atenção em suas últimas orações?
Paulo diz para orarmos também com a mente e não apenas com o espírito, pois a mente discerne o espírito e assim podemos discernir a nós mesmos enquanto oramos.

Qual o conteúdo de suas orações?
Gratidão, adoração, intercessão? Ou Murmuração, pedido de vingança, ódio e amargura?

O Senhor, quando oramos, não se impressiona com palavras e frases bem arquitetadas.
Ele observa nosso espírito, a energia que vaza de nossa alma, a realidade do que de fato estamos dizendo.

Você pode usar o melhor português e ser abominável a Deus em suas orações, pois elas estão carregadas de toda sorte de sentimento ruim. Por um outro lado, você pode dizer duas ou três palavras, talvez até erradas, mal pronunciadas ou gaguejando, mas ser agradabilíssimo ao Pai Eterno que discerne espíritos e não falas.

Que flagrante temos sido diante do Pai Eterno?
Um ser humilde, grato, consciente de sua graça em nossas vidas ou um verme arrogante, ingrato e ignorante a respeito da bondade do Senhor para conosco?

Thiago.

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