segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

ENXERGANDO-SE E ENCARNANDO A PALAVRA

"Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar"

Tiago, aos irmãos da Dispersão e a nós do século XXI

Nesses últimos dias tenho me enxergado como nunca me aconteceu antes em minha vida. Detalhe por detalhe, pensamento por pensamento, intenção por intenção. Parece que sou fiscal de mim mesmo numa constante visita ás profundidades de meu próprio ser. A viagem tem sido constante e assustadora. Enxergar-se é necessário e preciso sempre, mas dói muito, humilha, quebranta, arrebenta, estraçalha, esmaga, joga por terra presunções, arrogâncias, certezas, convicções, filosofias, teologias, ideologias, etc.

Agora mesmo, 3 da manhã, eu deveria estar dormindo, como normalmente faço, pois não tenho insônia constante. Contudo, a perturbação causada por esses enxergamentos me tem sido muitas vezes tão iluminadora que o sono se vai e pensamentos mil me assaltam me levando a escrever algo de proveitoso enquanto o sono não volta. Espero que esse texto seja proveitoso mesmo para você o tanto ou mais do que está sendo para mim escrevê-lo agora aqui.

Me veio á mente as palavras de Tiago acima citadas (leia todas mesmo que já conheça muito o texto) e, especialmente, duas realidades tratadas por ele nesse registro. São as realidade do auto-enxergamento e da encarnação da palavra. Comecemos com o assunto principal que é a encarnação da palavra na vida, pois o enxergamento aparece como sub-tema dela.

O que chamo de "encarnação" Tiago chamou de "tornar-se praticante" desde o começo. Ele alerta para o risco cômodo de tornar-se mero ouvinte da exposição do Evangelho sem nunca encarná-lo na vida cotidana. Isso significa ter contato com as Escrituras, lê-las, compreendê-las, talvez até ensiná-las, ouvir mensagens, quem sabe discutir, debater, entretanto, parar por aí sem comê-la mesmo como uma refeição que fortalece para o dia a dia da vida diante do mundo. Tiago diz que quando nos tornamos seres assim, do ouvir sem praticar e da admiração com o discurso, tornamo-nos semelhantes a um homem contemplativo, que se observa n oespelho da palavra, se enxerga, mas logo se retira, correndo, assustado e com medo do que viu porque não tem nenhuma disposição para uma mudança profunda e verdadeira. A palavra é espelho e toda vez que ela reflete nosso eu real nos assustamos visto que nada esconde sobre o estado real de nossa alma e espírito.

O reflexo do eu pela palavra é real por isso horrível; sem máscaras, então, com muitas feiúras. Por isso, dá vontade de sair correndo de dentro de si mesmo e se tornar uma outra pessoa. Daí, então, segundo Tiago, resta duas possibilidades: ou a gente se quebranta diante da realidade de quem somos e do ideal que podemos alcançar ou continuamos a ser esse ser liso que religiosamente se contempla e volta a se contemplar 300 vezes no ano sem que isso altere profundamente sua natureza.

É melhor nunca ter se enxergado do que discernir-se 400 vezes e não mudar!

Enxergar-se é só uma parte do processo; é preciso encarnar a palavra.

Quem só se enxerga sem transformação continua a ser um religioso hipócrita.
Quem muda com o enxergamento que viu torna-se um operoso praticante da palavra.

Deus quer que o enxergamento produza transformação de operosidade prática da palavra.

O nosso chamado nele é para encarnar a Palavra todos os dias de nosso ano e todas as horas de nosso dia.

O mundo não precisa de mais discursos belos e poéticos, mas de amor operante prático, simples, real ao próximo.

É preciso tornar-se operoso praticante que "considera" diz Tiago.
O que é considerar?
É levar a sério o que se ouve e o que se vê transformando o ensino em prática.
Essa é a lei perfeita da liberdade na qual devemos perseverar.

O que você está fazendo com o auto-enxergamento que lhe é dado?
Correndo e se retirando assustado?
Fingindo que não é com você?
Com medo da realidade do reflexo do espelho da palavra?
Desanimado com a verdade a seu respeito?

Não desanime, tudo pode mudar, se você quiser encarnar tudo o que tem aprendido.

Levante-se. Vá. Toma o teu leito e anda.

Thiago.

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