segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

COMO NASCEM OS ÍDOLOS...

"Não terás outros deuses diante de mim"
Deus, na declaração dos dez mandamentos

Agora de madrugada acordei e comecei a meditar em como nascem e se desenvolvem os muitos ídolos de nosso coração. Já dizia João Calvino, conhecido reformador protestante do século 16, que o coração humano é uma fábrica de ídolos. Boa tradução de nosso estado espiritual para essa época industrial! Aliás, serve para todas as épocas quer sejam industriais ou mais "tecnológicas" como a nossa.

O coração humano é uma fábrica grande de produção constante de idolatrias sim. Constantemente estamos gerando filhotes ídolos dentro de nós. E cabe sempre lembrar que a repreensão do Senhor contra a idolatria não se refere somente ás imagens de escultura, mas ao significado espiritual de tal alteração dos propósitos do coração. O Senhor não está falando contra materialidades, símbolos objéticos, imagens de escultura apenas. Estes são apenas a materialização do mal. Sabemos claramente que tudo pode se tornar um ídolo para nós: pessoas, lugares, atividades, pensamentos, ideologias, etc. Tudo e todos podem reinar em nossos corações mesmo que nem percebemos. Até Deus pode se tornar um ídolo caso o confundamos com algum outro ente do tipo que ele não é, um "deus".

Eu, particularmente, já discerni vários ídolos que minha fábrica individual criou ao longo de minha curta história aqui nessa terra até agora. Citarei um deles como exemplo ilustrativo. Sabe qual é? Seu marido também pode idolatrá-lo e seu filho do mesmo modo. É um esporte. Deixe-me parar com esse suspense bobo e dizer: o futebol. Imerso na cultura brasileira desde a infância, como qualquer outro menino brasileiro, me apaixonei pelo futebol. Desde cedo, ainda criança, respirava futebol. Frequentava escolinhas, jogava peladas nas ruas com os amigos, no colégio, no quintal de casa, onde acontecesse; colecionava aqueles álbuns com cromos que chamávamos de "figurinha" dos campeonatos, equipes, jogadores e todas as informações sobre o mundo do futebol; acompanhava campeonatos inteiros pela tv; disputava campeonatos pela cidade; discutia com outros a respeito de times; sofria perturbação quando o time do coração perdia e aproveitava para provocar os outros quando o deles perdia ou o meu ganhava ou os dois ao mesmo tempo; enfim, não preciso mais descrever os detalhes de tal envolvimento porque sei que você entendeu bem não apenas pela minha descrição, mas porque se você não foi uma pessoa igual a mim, no mínimo teve um amigo, irmão, vizinho, primo, pai ou filho com esse perfil, afinal, nós estamos no país do futebol. Hoje, graças a Deus, fui liberto do futebol como ídolo. Não consigo mais assistir uma partida inteira. Me interesso apenas por resultados finais e jogo apenas uma vez na semana como lazer leve sendo que algumas semanas não jogo nem sinto falta do jogo.

Todavia, mais importante que detectar a manifestação dos ídolos de nosso coração é entender a origem deles, a causa, as fontes, de onde eles vêm e como nascem.

Vamos começar do começo, bem do começo mesmo. De onde eles vêm? Do coração. O que é o coração?
O coração é o âmago e centro do ser que, segundo a sabedoria milenar, é onde se encontram as fontes da vida, segundo as Escrituras. Segundo as Escrituras também esse mesmo coração é corrupto, torto e enganoso, concluindo-se daí que dele procedem não apenas o que é vida, paz e amor, mas também morte, guerra e ódio. Portanto, os ídolos nascem dessa fonte enganosa que é nossa essência e natureza alterada pelo mal da queda segundo as Escrituras.

A palavra-chave para entender a origem e natureza dos ídolos é engano. Os ídolos são manifestação dos enganos e ilusões de nosso coração. O ídolo é o que não existe, porém ganha status de ser vivente e atuante ou então aquilo que existe e não tem muita importância, mas que o engano o faz ter importância que ele naturalmente não tem. O ídolo também é fruto dos vazios existenciais e dos buracos negros que podem habitar a alma de um ser humano quando Deus falta, quando falta fé, revelação, Palavra, Espírito, consolo, conforto, sentido, explicação, direção, rumo, norte, etc. Então, o ídolo aparece como um substituto de Deus que pode, porventura, preencher as lacunas dos espaços abertos nas alminhas dos homenzinhos.

A palavra paixão também esclarece o significado do que é um ídolo, principalmente quando você entende a abismal diferença entre paixão e amor. Ídolo é paixão e não amor. É supervalorização exacerbada daqueles que não são dignos de tanta glória, honra e dedicação. Contudo, a paixão que sempre é cega, pois não existe paixão lúcida, distorce a real imagem do ente idolatrado aos olhos daquele que o cultua. O amor não. O amor não idolatra, pois conhece a medida de todas as coisas e enxerga o real estado de pessoas e coisas bem como de qualquer outro ente seja uma atividade ou um lugar. O amor vê como é e não como desejaria que fosse, o que acontece muito com a paixão que se ilude tentando dizer a si mesma que alguém é o que de fato não seja.

Carência também ajuda-nos a entender o nascimento e desenvolvimento dos ídolos. Muitos ídolos são gerados em momentos de carência. A carência é uma porta aberta para a criação desses entes doentios. Eu, por exemplo, nesses dias, já enxerguei um ídolo que quase foi criado em meu coração por causa da carência: meu próprio filho. Visto que estou distante dele e só o vejo alguns poucos dias por mês, meu coração começou a confundir as coisas e a colocá-lo em um altar para quase tornar-se um ídolo particular do lar. Foi uma junção de carências: as minhas com as dele, que sempre pergunta por mim quando eu estou longe e essa informação da carência dele por mim me tentou a supervalorizá-lo em meu coração. Graças a Deus discerni antes de acontecer, mas nem sempre é assim que as coisas se dão.

Espiritualmente falando os ídolos nascem da pouca ou nenhuma comunhão que o ser humano experimente ou deixe de experimentar com o seu Criador e Pai Celeste, pois essa falta de comunhão cria em seu coração um espaço grande de falta de sentido e preenchimento psicológico e espiritual. Quem tem comunhão verdadeira e íntima com o Senhor têm bem menos ou quase nenhum espeço para gerar ídolos em seu próprio coração visto que é habitado por um sentimento de completude simplesmente gerado pelo prazer de ser um com seu Pai. Quem experimenta essa comunhão íntima não têm necessidade de mais nada nem ninguém como essencialidade para satisfação da alma e do espírito. As outras pessoas, atividades, coisas, lugares e circunstâncias em geral tornam-se apenas apêndice, adendos, bençãos adicionais, dádivas extras para cuidado e prazer, contudo nunca um fim em si mesmo como essência de vida para a sobrevivência da alma e do espírito.

Um outro ídolo muito comum gerado pelo nosso coração é o "nós-mesmos". Sim, é fácil idolatrar a si mesmo tornando-se um ser narcisista, egoísta, individualista, egocentrista, que sempre procura seus próprios interesses antes dos interesses dos outros, que se adora, que se olha constantemente no espelho, que fala sempre de si com orgulho e faz propaganda constante de suas virtudes, que cultua a preguiça para preservar-se, enfim, aquela ameba ambulante que se acha o centro do universo, mesmo que esse universo tenha outros bilhões de criaturas semelhantes a ele.

Você têm ídolos? Quais?
Você consegue enxergar seus próprios ídolos?
Se enxerga, deseja destroná-los de sua alma?

Tem gente que enxerga, mas não quer. Depois de ler esse pequeno artigo, acredito que você já seja ciente e preparado para começar a tentar se auto-enxergar e em enxergando-se saber do mal ao qual sofre.

Agora é com você.
Vai continuar a adorar outros deuses ou apenas ao Único que É e te criou para ser Um contigo para sempre?

O nascimento de ídolos em nosso coração é inevitável, mas o desenvolvimento e continuação deles dentro de nós é evitável.

Você quer?
Então, lançe fora teus deuses de diante de ti e do Senhor. Amém.

Thiago.

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