segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A SIMPLICIDADE É COMPLICADA, MAS POSSÍVEL

"Sede simples como as pombas..."
Jesus, no Evangelho de Mateus

Você acha que é simples ser simples?
Considera fácil encarnar o caminho de simplicidade que Jesus propôs como vida aos seus discípulos?

Creio que não.
Acredito que você, assim como eu, imergido na realidade do dia a dia, nas demandas da existência e no frenesi do corre-corre deste mundo cada vez mais acelerado e complexo, sabe que é difícil praticar o mandamento de Jesus todos os dias, ou na maioria deles, ou até em pelo menos apenas alguns deles.

Por que será que é complicado ser simples?
Por que temos nos tornado todos os dias seres cada dia mais complexos e multifacetados?
Por que a alma humana está tão fragmentada em nossos dias?
Quais as origens e causas permanentes que complexificam nossa vida?

Como fazemos muitas vezes, é preciso voltar ao início de tudo, para compreender ou pelo menos lembrar de origens, causas e significados. O momento Éden sempre nos refresca a memória acerca do que sempre aconteceu e até hoje acontece.

No princípio, na gênese, tudo ERA SIMPLES!
Deus criou tudo perfeitamente, os céus, a terra, o mar, a fauna, a flora, as espécies, o ser humano, etc.
Tudo era lindamente simples e belamente descomplicado. Tanto isso é verdade que ao final de cada dia o Senhor observava a criação do cotidiano e dizia para si mesmo: "Tudo é muito bom!". E por que era bom? Por ser complexo? Por que a vida era corrida e agitada? Por que as pessoas mal se viam e conversavam umas com as outras enquanto corriam daqui para lá e de lá para cá? Porque Adão e Eva ficavam mais de um dia sem se ver morando na mesma casa como chega a acontecer com alguns casais de nosso tempo?

NÃO, absolutamente, não!

Tudo era simples porque Deus é simples embora seja também o insondavelmente misterioso.

E o que aconteceu? De que maneira a simplicidade acabou?
Sabemos da história e não vou me estender. Mas o fato é que o Diabo, o complicador de tudo, começou a tumultuar o céu, como sabemos, ambicionando usurpar o trono do não-usurpável Altíssimo. O mistério da iniqüidade aconteceu, embora não saibamos como exatamente, mas aconteceu e esse fato complexificou tudo desde sua própria existência até depois a existência de toda a criação que se contaminou com esse vírus.

Mas o que de fato aconteceu no Éden que podemos chamar de a complexificação do que é simples?
 São variadas as palavras que podemos usar e as implicações do que aconteceu, mas quero destacar apenas uma realidade.

A grande realidade que estragou tudo no Éden foi a fé na mentira.
Quem mentiu? O Diabo. Quem acreditou? Eva, a mulher, e depois Adão também, como cúmplice.

A mentira torna a simplicidade complicada e muitas vezes impossível de ser praticada. A verdade é, mas a mentira que não é precisa lançar de mil fundamentos que não são para dar a impressão que é, que existe. Então, o mentiroso, ás vezes de propósito como foi o caso do Éden, lança a proposta falsa como desafio para aquele que a recebe. A mentira sempre é uma proposta. Geralmente de crescimento, expansão, ambicionista, promotora, alavancadora, como foi no caso de Eva que acreditou na mentira de Satanás.

"PROGRESSO" era o que Eva queria. INSATISFAÇÃO é o que tomou conta de sua alma. DESOBEDIÊNCIA foi o que ela praticou contra a ordem do Senhor expressamente dada.

No afã de experimentar o novo ela arruinou-se bem como toda a criação junto de si. De lá para cá, como conseqüência dessa queda, tudo se complexificou. As disciplinas vieram e permaneceram como condição enquanto o homem pisar esse chão. As criaturas sofreram amputações e mutações que lhes transformaram em seres emissores de gemidos por causa da escolha humana; o homem passou a experimentar o trabalho como carga pesada que lhe tomaria grande parte do tempo e da força; a mulher sofreu a multiplicação das dores do parto que provavelmente eram leves e a limitação do desejo para seu marido embora não saibamos exatamente o que isso signifique de fato.

A vida abundante se tornou SOBREVIVÊNCIA extenuante, como se dá até hoje, aqui, aí, em todos os lugares do planeta terra.

Então vem a pergunta: É possível trilhar um caminho de simplicidade em um mundo caído? Como andar descomplicando-se a cada dia enquanto assistimos a nossa volta uma horda de seres humanos cada dia mais complexificados e de alma multifacetada?

Sim, é possível, embora seja difícil, como nadar contra a correnteza do fluxo de um rio caudaloso que corre frenético para o outro lado.

É possível desde que haja disposição física, mental e espiritual da nossa parte de encarar essa jornada diária.

É possível se levarmos as palavras de Jesus a sério esforçando-nos para sermos praticantes dela e não meros ouvintes. Os ouvintes são sempre mais complicados enquanto que os praticantes simplificam tudo. Os meros ouvintes só criticam, apontam erros e exigem qualidade de conteúdo e oratória, mas os praticantes têm a capacidade de resumir a essência, arregaçar as mangas e sair pelo mundo vivendo a Palavra.

Os ouvintes são do tipo muito religiosos que sempre trazem questões a Jesus enquanto que os praticantes são aqueles que mesmo não sabendo muito tentam praticar tudo o que sabem.

É possível sim, simplificar a vida. Difícil é querer, ter disposição, vencer a preguiça.

É possível se tornar um homem e uma mulher cada dia mais simples, com menos vaidades e caprichos.É diminuir a quantidade de carros, se você os tem em abundância ou se tem só um quem sabe abandoná-lo?
É viver com menos satisfeito no essencial. É retirar do coração os variados ídolos que estão cravados em nossa geração, como por exemplo, a tecnologia. Dias atrás ouvi uma mulher dizer: "Não vivo sem internet!".
Como se a internet fosse água, comida, saúde, ou Deus. E não duvido que trata de uma pessoa que não depende da internet para trabalhar, mas apenas para entreter-se, o que aconteceu com muitos. Você teria disposição de pelo menos diminuir sua dependência e tara por tecnologias do nosso tempo? Você se disporia  a visitar pessoalmente aqueles que você diz que são seus amigos mas não sabe nem o cheiro deles?

Você diminuiria ou abandonaria o ar condicionado de seu carro?
Todos os dias vejo ridiculamente muitas pessoas viciadas em ar condicionado de modo que o ligam e fecham os vidros do carro mesmo quando não é necessário. Ontem á noite, uma pessoa no carro em que eu estava, queria ligar o ar mesmo com o clima fresco, pois havia acabado de chover, tamanha a dependência que se criou da tal respiração artificial.

Você se disporia a tornar-se menos artificial e mais natural? Abandonar o refrigerante e substituí-lo por suco natural e/ou água?

Se você não tem disposição suficiente para mudar pequenos hábitos como esse, infelizmente, será difícil tornar-se uma pessoa simples, pois você está fadado a fazer parte da sinfonia de morte que impera em todas as babéis de nosso mundo contemporâneo e urbano.

É possível descomplicar-se, mas só depende de nós.

Thiago.

sábado, 28 de janeiro de 2012

O DESCANSO EM DEUS PELA FÉ QUANDO FALTA ALGO

Leitura: Hebreus 4 e 11

"Porque nós, os que temos crido, entramos no repouso..."

Hoje, aconteceu comigo, de novo, o que há muito tempo eu não experimentava: o dinheiro acabou.

Mas acabou mesmo, zerou, de novo, como há uns 12 dias atrás, também aconteceu, enquanto eu viajava de volta de Minas para cá e que resultou numa espera de 21 horas para poder fazer uma refeição. Ora, 21 horas sem comer para quem está acostumado com a miséria talvez não seja tão sacrificante, mas para mim que tenho o costume de fazer 4 boas refeições diárias, completas, é um sacrifício. Daquele vez, zerou tudo, carteira e conta bancária bem como todas as outras possibilidades de obtenção aqui e ali por adiantamento no trabalho ou outra via qualquer. Dessa vez, fui um pouco menos pior, pois embora na carteira sobraram apenas R$ 0,75, no banco eu tinha mais ou menos uns R$ 20,00, embora também esses 20 não seja praticamente nada para quem precisa comer, beber e andar o dia inteiro bem como pagar algumas contas inevitáveis e mandar algum dinheiro para a família que se encontra longe.

Por que lhe digo isso? Por que acrescento esse fato nessa reflexão?

Apenas para factualizar o princípio que quero que nós reflitamos agora. Você sabe qual é?

O princípio é este do descanso em Deus pela fé em momentos difíceis como o de falência financeira. Quando o nada nos acomete, as notas somem da carteira, os digitos do banco, as pessoas que podem te socorrer do lugar onde você está, você não as encontra nem pelo telefone, precisa continuar indo, caminhando, mas não sabe como o fará, já que tudo sumiu da sua frente. Esse nada também vem não apenas sob forma de falência financeira, mas sob a forma de solidão relacional, quando se perde a mulher e/ou o filho; o emprego e do dia para noite têm-se que tornar-se criativo para conseguir matar o tempo que sobra e você não sabe o que fazer com ele, pois, a criatividade uma hora acaba e você simplesmente pára, senta e fica esperando o tempo passar, torcendo para as horas andarem.

É nesse "nada" aparente" que encontramos o "tudo" existente. Sim, porque Deus continua presente em nossos aparentes "nadas", nas nossas falências, no dia mau, na solidão, no desemprego, na distância de quem se ama, na incerteza de como recomeçar. Sim, é nessas horas em que experimentamos o descanso em Deus pela fé, porque a fé só se concretiza mesmo no nada, no vazio, no vácuo, no zero, na solidão.

Fé quando tudo se tem não é fé verdadeira, pois, se alguém vê e tem, como crê e espera?

Nesses dias também me lembrei de uma experiência prodigiosa que tive com o poder do Senhor no ano de 2008. Eu morava na cidade de Presidente Prudente, interior de São Paulo, minha terra natal, com minha família. Trabalhava como pastor, em uma igreja local, da denominação a qual eu pertencia, normalmente, como muitos homens o fazem todos os dias em todos os lugares. Aconteceu que, em certo mês, no final dele, mais ou menos dia 20, meu dinheiro diminuiu bastante, como acontece com muitos trabalhadores brasileiros que a medida que o mês se vai o dinheiro também vai junto. No começo há alívio porque há dinheiro e geladeira cheia, mas a partir do dia 15 o bicho começa a pegar, isso quando não pega antes do dia 15. Então, como dizia, fiquei com pouco dinheiro e tive que decidir entre o pão e o leite de cada dia e o combustível para o carro. O que escolhi? Obviamente, por uma questão de lógica sobrevivencional, cortei o combustível e usei o dinheiro para o pão e o leite. Então, peguei o carro, guardei na garagem, apenas com pouquíssimo combustível suficiente apenas para funcioná-lo e levá-lo até o posto mais próximo no começo do mês, quando receberia o salário e poderia pôr algum combustível. Ele ficou lá, parado, durante mais ou menos uns dez dias. O tempo passou, o mês terminou, o salário chegou e feliz da vida, fui até ele funcioná-lo para levá-lo ao posto e abastecê-lo. ENTRETANTO, quando virei a chave no contato tive uma grande surpresa: o ponteiro do marcador de combustível estava lá em cima marcando tanque cheio. A princípio pensei pela lógica que deveria ser um problema elétrico no painel ou na própria bomba de combustível que quando estraga faz com que o ponteiro marque errado. Então, saí direto ao posto para abastecê-lo. Encostei e pedi ao frentista que colocasse uma certa quantia que agora não me lembro. Ele foi, mas logo voltou me dizendo que não era possível pôr mais nem 1 litro porque O TANQUE ESTAVA CHEIO. Tomei um susto, peguei a chave de volta e fui direto ao mecânico. Ainda descrente acerca do milagre e tentando racionalizar de todas as formas pedi que o mecânico retirasse o tanque para conferir o estado da bóia de combustível porque desconfiei que ela estava com problema. Ele me perguntou se o tanque estava vazio e eu disse que sim. Quando ele levantou o carro pelo elevador da oficina e tentou retirar o tanque por baixo o fato se confirmou: o tanque estava cheio. Tão cheio que ele sozinho não conseguiu suportar o peso e chamou outro ajudante para dar-lhe força. Contei a ele a história do milagre, mas ele não acreditou. Contudo, esse é o fato e também o MILAGRE. E a parte mais importante de toda a história foi que eu não orei nem busquei nada. SIMPLESMENTE ACONTECEU. Como diria Chicó, personagem do filme "Alto da Compadecida", quando os outros lhe perguntavam como aconteciam as coisas estranhas que ele narrava, sua resposta era sempre: "Não sei, só sei que foi assim".

Falta-lhe alguém ou algo nesse momento?
Você sente-se falido ou  fracassado?
Sozinho e não sabe nem como vai se alimentar amanhã?
Doente e não tem noção de quando será levantado dessa cama?
Dolorido por causa da perda daquele ente querido que se foi?
Desempregado desiludido depois de ter enviado vários currículos a variadas empresas?
Desenganado pelas reprovações que passou nos vários concursos públicos que vêm prestando?

Não importa o que você sente como falta hoje e agora.
Saiba, o nada com Deus torna-se tudo enquanto o tudo sem Deus é como nada.

Descanse....
Creia....
Prove e veja que o Senhor é bom.

Thiago.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

QUER APRENDER A AMAR O PRÓXIMO?

"Amarás o teu próximo como a ti mesmo"
Jesus, em algum dos Evangelhos

Todos nós sabemos que a maior prova real de que amamos a Deus é a manifestação do amor ao próximo que encontramos todos os dias diante de nós. Entretanto, será que sabemos o que significa de fato e de verdade amar o próximo? Será que realmente conhecemos o que o próximo precisa? Nossas tentativas de amar os outros têm tido êxito? São verdadeiras? São autênticas? O que significa amar e cuidar de uma outra pessoa?

Por incrível que pareça, e mesmo parecendo contraditório a um outro princípio do próprio Evangelho, creia, só aprendemos a amar o próximo depois que conseguimos amar a nós mesmos!

Só sabe amar o próximo com propriedade quem antes aprendeu a amar a si mesmo!!!

Escandalizou-se? Estranhou o princípio? Parece egoísta e narcisista?

Eu também estranhei e fiquei lutando contra essa verdade nova para mim. Isso porque o próprio Evangelho ensina que para seguir a Jesus precisamos "negar-nos a nós mesmos". Parece uma contradição não é? Também achei a princípio. Afinal, de outra feita, Jesus ensina explicitamente que é necessário negar a si mesmo para ser seu discípulo.

E agora? Como entendemos esses dois princípios? Um nega o outro? É uma contradição?

Não, absolutamente, não!

É apenas mais um daqueles paradoxos maravilhosos do Evangelho que podemos nos confundir no começo, mas que tornam-se claros e leves quando compreendemos a completude da Palavra do Senhor.

O primeiro mandamento, de negar-se a si mesmo, não invalida esse de amar como a si mesmo. Explico.

O "SI MESMO" do primeiro é diferente do "TI MESMO" do segundo.
O primeiro, o qual Jesus nos manda negar, é a identidade adoecida, egoísta, individualista, amante de si mesmo de uma forma exagerada, narcisista, vaidosa, caprichosa, preguiçosa e etc. É o conjunto de vaidades evitáveis nessa vida, mas que muitas vezes nós absorvemos e praticamos pelos motivos mais diversos que não cabe aqui descrever. Esse "si mesmo" é aquela presunção e arrogância do ser que se vê como o centro do universo; é alma de filho mimado demais pelos pais e, como diz em minha terra, no interior, é filho "estragado" e que gostou de receber atenções exageradas.

Já o segundo, é o "si mesmo real", a identidade e individualidade sadia que Deus deu a cada um de nós. É o self curado. É cuidar de si mesmo com o mínimo de dignidade, vencendo os complexos de inferioridade, as baixo auto-estimas, as vergonhas e timideses exageradas, as falsas humildades, etc. É ter a consciência de todas as necessidade reais que você precisa, sejam físicas, psicológicas ou espirituais, e provê-las a você mesmo. É cuidar de você com carinho, mas sem frescura; com cuidado, mas sem boiolagem; com higiene, por exemplo, mas sem tornar-se um metrossexual idiotado.

Viu como faz todo o sentido? Entendeu porque é necessário também, para aprendermos a cuidar dos outros, aprendermos primeiramente a cuidar de nós mesmos?

Muita gente não cuida dos outros porque simplesmente não sabe nem quer cuidar de si mesmo!

Eu mesmo, nesses dias, vejo que preciso primeiro aprender a cuidar de mim mesmo, para depois conseguir cuidar bem de outros. Morando e vivendo sozinho a maior parte do tempo, tenho me exercitado num cuidado saudável de meu corpo e alma que no futuro me ajudará a porventura saber cuidar do corpo e da alma de outros que sou e talvez me tornarei responsável. Fisicamente, por exemplo, perdi 6kgs nos últimos três meses e agora estou tentado recuperá-los com musculação e uma dieta mais pesada, com mais carboidratos e etc. Perdi esse peso (que para mim é muito visto que sou magro) por causa dos últimos sofrimentos que passei, mas agora posso me esforçar para me refazer fisicamente.

Você cuida de si mesmo?
Você sabe tratar a si próprio com amor e carinho sem exageros?

Só conseguiremos cuidar bem de nossos próximos QUANDO aprendermos e nos dispormos sem preguiça a cuidar de nós mesmos.

Que o Senhor nos dê amor próprio saudável suficiente.

Thiago.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A GRAÇA DE DEUS NOS CONSOLA EM MEIO ÁS DORES DA RENÚNCIA

"Qualquer que quiser vir após mim e não amar menos seu pai, mãe, irmão, irmã, filho, filha, casa, carro, dinheiro e etc. não é digno de mim"
Jesus, no Evangelho de Mateus

Há três dias venho sofrendo de dores geradas pela saudade do meu filho.
Estou tentando falar com ele, mas não consigo porque nos dias anteriores ninguém atendeu e hoje ele estava bem longe do telefone, brincando feliz com seus primos.

Esse falar com ele ao qual me refiro é praticamente só ouvir sua voz porque por causa de sua pouca idade (3 anos e meio) ele troca apenas duas ou três palavras comigo no telefone. Para mim já é um pequeno alívio embora eu queira mesmo é estar junto dele.

Hoje meu peito está doendo apertado porque voltei a sentir a saudade vinda da distância que nos separa no momento. Então me veio á mente a realidade do significado do que é de fato e de verdade renunciar segundo o ensino de Jesus no Evangelho.

Renunciar é duro, muito duro!

Creia-me, não escrevo para me vangloriar diante de você me apresentando como alguém que "teve coragem" de praticar o ensino de Jesus. Não, não é esse o meu objetivo. O objetivo é lembrar-nos juntos que Deus é tão bom que sua graça cuida de nós mesmo em meio as dores e sofrimentos mais profundos que possamos sentir.

É dolorido tomar uma decisão de "amar menos" quem você ama muito. É uma amputação. É um corte. É um arrancamento de pedaço. Fico imaginando a gravidade da dor de perder um filho mesmo, por morte e não por distanciamento apenas geográfico. Ou então, perder um filho que, por um ou outro motivo não quer nem falar com o pai e chega ao ponto de considerar seu pai um ente morto, enterrado, sepultado no coração de tal filho.

Lembrei-me também do caso da história da entrega que Abraão fez em sacrifício de seu próprio-único-filho Isaque. Apenas imagino a dor que ele sentiu antes e durante essa oferta. Se para mim, viver distante do meu filho, vendo-o apenas alguns dias por mês, sabendo que está vivo e bem, já é doloroso, quanto porventura terá sido doído para Abraão subir com Isaque no colo ao Monte Moriá naquele dia?

Nenhum de nós sabe o tamanho da dor que ele teve e provavelmente nunca saberemos visto que essa parece uma daquelas experiências únicas e radicais que Deus proporciona a determinados homens e mulheres que têm imensa intimidade com ele. É para poucos porque poucos nessa vida suportariam tal peso.

Entretanto, apesar de todas as dores reais que a renúncia para seguir a Jesus traz, o Senhor é tão bom que continua derramando uma graça consoladora para nos fortalecer após uma decisão que tanto rasga a alma quanto essa.

Ele diz que para seguí-lo é necessário amar menos todos e tudo, não nos isenta das dores conseqüentes
dessa decisão, MAS nos socorre com a fidelidade de derramar sobre nossa alma sua abundante graça consoladora.

Portanto, creia, Deus nos carrega nos braços em momentos de pós-perda, mesmo que tenha sido uma perda-conseqüência da simples obediência ao chamado para seguí-lo.

Você está sendo chamado a renunciar algo ou alguém por amor ao reino de Deus?
Entenda, eu estou dizendo "por amor ao reino de Deus" e não aos seus caprichos e vaidades de um coração que quer aproveitar a oportunidade para se "livrar" de um problema que talvez você mesmo causou.

Não generalize nem absolutize as minhas palavras, pois minha experiência não é base de tomada de decisão para quem quer que seja assim como o fato de Abraão ter atendido a um pedido para imolar o próprio filho signifique que Deus continua fazendo o mesmo da mesma forma com outros homens hoje. Cada um ele trata de uma maneira.

Talvez você esteja sendo chamado a renunciar uma promoção de trabalho por amor ao reino.
Pode também ser um namoro ou a convivência em sua casa paterno-materna porque chegou a hora de você deixar pai e mãe.
O chamado para renunciar também pode implicar em uma mudança geográfica, de cidade, estado ou país.
Eu não sei o que significa para você hoje renunciar, mas pode ser que você saiba e esteja sendo chamado para praticar tal renúncia.

Mas seu caso pode também ser outro, semelhante ao meu.
Pode ser que você já renunciou (por amor ao reino) e agora esteja sofrendo as dores e implicações todas do que é amar menos tudo e todos para seguir a Jesus. Nesse caso saiba: o mesmo Jesus que aventou a possibilidade de perda de entes queridos no caminho do discipulado também garantiu o ganho de muitas pessoas que lhe aparecerão como pais, mães, irmãos, filhos, filhas, amigos, etc.

Você perde, mas também ganha!

Deus nos ampara como diz o Salmo: "Ainda que meu pai e mãe me desampararem, o Senhor me acolherá" e "faz com que o solitário habite em família".

Se esse fôr o seu caso, a minha oração é para que o Espírito Santo caia agora em você enquanto lê essas palavras e te encha de alegria vinda da certeza da consolação do amor do Pai dentro de seu coração.

O Senhor te fortaleça, meu irmão!

E mais: saiba que as dores da renúncia manifestada por amor ao reino trazem um crescimento espiritual grandioso. Lembra-se de quando você era adolescente? Eu me lembro que na minha adolescência (não sei se é fenômeno comum) meus ossos doíam muito. Eu não sabia o motivo e nem tinha disposição para procurar um médico e fazer exames. Mas certa vez, enquanto lia certo texto de um pregador muito sábio, ele estava dizendo que esse é um fenômeno comum a algumas pessoas e não se trata de doença alguma mas simplesmente de DORES DO CRESCIMENTO. Dali em diante comecei a me alegrar com aquelas dores porque eu agora entendia que estava crescendo fisicamente e saudavelmente.

A dor faz crescer!

Então, nos resta apenas agradecer ao Pai pelas dores que porventura nos acometam, porque apesar do sofrimento que temos de suportar, estamos crescendo na compreensão da vida, do Evangelho e de nós mesmos diante de Deus.

Que a Graça te fortaleça em meio a dores.

Graças ás dores!

Thiago.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A MISERICÓRDIA DIVINA DIANTE DOS PRETEXTOS HUMANOS

Leitura: Números 12

Você já inventou pretextos para maldizer outros?

Com certeza dirá que sim, se fôr honesto.
Todos já fizemos e continuamos a fazer.

O pretexto é a oportunidade da perversidade se manifestar como maldade contra alguém que já odiamos ou rejeitamos por outros motivos não revelados.

É o que fizeram Miriã e Arão contra Moisés. Eles aproveitaram-se de um fato, sem relação alguma com o outro, para acusarem Moisés e murmurarem contra os céus. Observe.

No v.1 se diz que o motivo da queixa deles contra Moisés foi pelo fato de ele ter se casado com uma mulher não israelita. Contudo, a seguir, no v.2, o registro mostra outras palavras no coração e boca deles, que nada tinham a ver com o casamento de Moisés. Essas palavras revelam a verdadeira motivação da queixa.

Você sabe qual era? A inveja.

O real motivo da murmuração da dupla não foi a naturalidade da nova esposa de Moisés, mas a inveja armazenada como veneno dentro deles. O casamento era pretexto, mas a inveja realidade.

Sofreram de um ciúmes doentio (porque inveja e ciúmes são irmãos gêmeos) do tipo que se enxerga inferior ao outro e deseja tornar-se igual.

É uma inveja profética! Espiritual.

A noiva cuxita só despertou em Miriã e Arão o que de pior neles havia, naquele momento, em relação a Moisés. Sendo assim, resta-nos agora nos perguntar o que essa história tem a ver comigo e com você aqui e agora no ano de 2012?

Tudo! Absolutamente tudo.

Pois assim como a dupla acima citada, nós, por vezes, muitas vezes, inventamos pretextos e desculpas para camuflar nossas verdadeiras intenções. Quantas vezes eu e você aproveitamos um episódio na vida de outrem para exprimir nossos venenos de inveja, amargura, ódio?

Quantos Moiseses nós já quisemos derrubar ou quantas vezes o fizemos contra uma mesma pessoa?
Quantas vezes cansamos do anonimato ou do 2º lugar em nossa escala esquizofrênica de hierarquias?
E aquela vez que nos aproveitamos da fraqueza dos fortes para subjugá-los?

Fato é que o Senhor ouve e vê tudo. Ele separa muito bem realidade de pretexto. Conhece todos os corações e as motivações verdadeiras de cada um deles. Por isso, quando inventamos pretextos para tentar esconder verdades, ele nos disciplina, como quando o fez com a dupla fazendo lepra nascer em Miriã.

Saiba: o Senhor disciplina todo filho que tenta usar de pretextos para esconder o mal.

Provavelmente, não ficaremos enfermos fisicamente (embora isso possa acontecer). Contudo, a disciplina vem e nossos sete dias fora do arraial podem significar outras privações. Todavia, é preciso considerar a misericórdia do Senhor nesses momentos.

Qual foi a manifestação da misericórdia divina para Miriã e qual é para nós?

Aconteceu e acontece de duas maneiras, entre outras, diversas que podem se dar.

Primeiro, pela intercessão do próprio ofendido.
Moisés perdoou Miriã e pediu que o Senhor a curasse. O ofendido, de coração manso e limpo, intercede pelo ofensor. Essa é uma manifestação da graça divina, porque, caso não houvesse um agir dela-graça no coração de Moisés, ele nem perdoaria nem intercederia em favor da irmã de sangue.

Nossa disciplina pode começar com o susto gracioso de receber bem em troca do mal praticado. É um constrangimento do amor.

Em segundo lugar, pela re-inclusão amorosa do malfeitor.
Quando se espera exclusão, a graça de Deus surpreende incluindo. A misericórdia inclui. O povo esperou sete dias por Miriã e só partiu depois que ela foi recolhida. É um exército inteiro mudando a agenda por causa de um soldado infrator ferido.

Concluindo...
A misericórdia divina nos alcança tratando nossos pretextos com verdade, disciplina e graça, para que saibamos que o Senhor disciplina todo filho a quem ama.

Ele mostra que os pretextos são invejas, amarguras, ódios, vinganças, adultérios, mentiras....
Também envia privações, sofrimentos, provações, perdas e etc para nossa disciplina.
Mas no final, trata-nos com misericórdia infinita e diária que triunfa sobre todo juízo e condenação.

Amém. Assim seja hoje e sempre para todos nós.