quarta-feira, 25 de julho de 2012

O REINO DAS KENGAS E A IGREJA DOS PERDIDOS

"Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes vos precederão no reino dos céus"
Jesus, ensinando que a sinceridade, o arrependimento e o amor introduzem as pessoas no reino

"Pela fé, Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz aos espias"
Hebreus 11.31

Ontem a noite fiquei impressionado com certa história de uma moça narrada no seriado da Globo "Gabriela".
O nome da personagem é Lindinalva e ela foi forçada pelo noivo para transar. Depois que isso aconteceu, o noivo fugiu e ela ficou para encarar a sociedade moralista, perversa e hipócrita na qual vivia. Daí, então, começou uma terrível luta por sobrevivência. A cidade inteira ficou sabendo do que lhe acontecera, de como ela tornara-se uma mulher "perdida" pelo fato de ter se "entregado" ao noivo antes do casamento.
Ela tentava se justificar dizendo que foi ele quem insistiu, mas ouviu várias vezes a mesma acusação: "A culpa é sempre da mulher. É isso que a sociedade diz". Peregrinou de porta em porta pedindo abrigo, pelo menos um teto e comida em troca de qualquer trabalho que pudesse realizar. Mas foi rejeitada por todos e todas. As mulheres lhe diziam: "Sou uma mulher honrada, casada, e não abrigarei uma perdida como você". A maioria dessas pessoas que a rejeitaram eram muito religiosas, "comportadas", "honradas", mães, esposas e qualquer título que os graus de reputação hipócrita humanos puderem atribuir a alguém.
Depois de não conseguir ajuda alguma, despejada da casa onde morava e sem opção, ela bateu no prostíbulo da cidade e pediu auxílio para a dona. A proprietária, personagem vivida pela cantora e agora atriz Ivete Sangalo, a acolheu com amor e disse que ela teria não apenas teto, comida e trabalho, mas também amor, carinho e amizade. Lindinalva, então, mesmo não querendo vender seu corpo, viu-se obrigada pelo menos naquele momento a entregar-se a prostituição para sobreviver. Ela foi, chorando por dentro, mas foi.

Eu chorei com algumas cenas dessa peregrinação da personagem na minisérie.
Você sabe por quê?
Porque esse é um retrato real do espírito não apenas de uma sociedade antiga como aquela, mas também de uma alma modernamente perversa como a nossa.
As configurações mudaram, mas as mentalidades e espíritos são os mesmos hoje.

Na hora eu me lembrei e entendi plenamente porque Jesus disse aos religiosos de sua época que as prostitutas e meretrizes entrariam antes no reino do que eles. Você sabe porque?
Porque geralmente, como era o caso da minisérie, entre as "kengas" existe mais sinceridade e amor do que entre os crentes. Sim, todos sabem que o que digo é verdade.

As kengas são mais sinceras e amorosas que os crentes por isso elas chegarão antes á mesa do banquete do reino dos céus.

Raabe é também um exemplo bíblico dessa verdade, pois foi justificada por meio do arrependimento que gerou amor para acolher os espias que precisavam de socorro.

Assistindo as cenas da minisérie comecei a pensar:
 "Quem são os verdadeiros perdidos?
As prostitutas que com sinceridade e amor acolheram a injustiçada pobre e desabrigada?
Ou os religiosos que a tocaram de suas casas como uma cadela doente e inútil?

Creio, de todo o coração, que as beatas insensíveis estavam muito mais perdidas que as meretrizes acolhedoras!

Eu, em menor grau, tenho sentido em minha pele uma realidade semelhante a essa.
Depois de minha separação, tenho encontrado mais sinceridade, amor e graça nos não religiosos do que nos crentes. Os não religiosos se entristecem, mas me desejam boa sorte no recomeço da caminhada. Já os crentes proferem muitos juízos condenatórios contra a minha alma. Já me xingaram de tudo quanto é nome, dos mais grotescos aos mais sofisticados. Eu, contudo, discirno tudo e procuro amadurecer a consciência do Evangelho em mim nesses dias de encurralamento que a vida me deu.

O que eu quero realmente dizer e que fique bem gravado em sua alma é que o que importa para Deus é que todos se arrependam da sua iniqüidade básica, da sua essência torta, do seu espírito surtado rumo a pretensão de viver independentemente de Deus. Na final das contas, seja você um religioso, uma puta ou um cidadão "decente", não importa. O que importa para Deus é que TODOS SE ARREPENDAM!

Sem arrependimento genuíno, disse Jesus, todos nós pereceremos, independentemente de qual grupo façamos parte ou possamos ser incluídos ou rotulados.

Com quem você mais se parece?
Com uma prostituta sincera e amorosa que não perdeu a sensibilidade ou com religiosos intolerantes que mantém um coração duro diante das necessidades de seres humanos carentes?

Eu prefiro ser uma kenga sincera, amorosa e arrependida do que um crente hipócrita, insensível e duro.
E você?
Achou duro o discurso?
É duro mesmo mas cheio de amor para a salvação da nossa alma.

2 comentários:

  1. Achei ,ótimo e concordo.Se eu vivesse naquela época,toda vida eu seria Kenga.Deus me livre aqueles coroneis te tratando como lixo.Eles tratavam bem melhor as kengas que as próprias esposas .Também fiquei muito irritada mesmo já conhecendo a história.Na época não lembro de sentir o que senti agora.Mas é como ler um livro pode se ler várias vezes com enterpretação diferente.

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  2. Achei ,ótimo e concordo.Se eu vivesse naquela época,toda vida eu seria Kenga.Deus me livre aqueles coroneis te tratando como lixo.Eles tratavam bem melhor as kengas que as próprias esposas .Também fiquei muito irritada mesmo já conhecendo a história.Na época não lembro de sentir o que senti agora.Mas é como ler um livro pode se ler várias vezes com enterpretação diferente.

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