sexta-feira, 8 de março de 2013

O Evangelho nos evangelhos e os evangelhos no Evangelho

"Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz..."
Hebreus 4.12

Hoje me lembrei de algumas palavras que ouvi de certo amigo dias atrás e que me chamaram a atenção tanto no momento quanto até hoje. Ele disse: "Precisamos começar a ler o evangelho...". Ele se referia aos livros chamados de "evangelho", que são quatro e fazem parte do cânon do Novo Testamento encontrado na Bíblia.

Logo percebi que, por trás dessa afirmação, como atrás de todas as outras, existe um conceito religioso imbutido. Qual é esse conceito religioso?

É o conceito de que a Bíblia É a Palavra de Deus.
O que significa esse conceito?
Significa, simplesmente, que o livro chamado "Bíblia", mundialmente conhecido e que serve como fundamento único ou no mínimo importantíssimo para várias religiões, segundo esse entendimento, é a própria Palavra de Deus.

Entendo esse conceito porque eu também já cri assim no passado e no curso de teologia que fiz essa era uma discussão bastante constante. De um lado havia os "reformados-calvinistas" que afirmavam, contundentemente, que de fato a Bíblia-Livro É mesmo a própria Palavra inerrante e infalível de Deus. Com esse pensamento eles encerravam a fala de Deus ao Livro Bíblia, pois estavam e continuam os que assim crêem dizendo: "Deus só fala no livro" ou "Fora do livro não há Palavra". Esse conceito ainda permanece na mente de muitos cristãos atuais. Ontem mesmo, ouvi parte de um debate sobre o assunto dons espirituais, em um programa e canal cristão, onde um pastor tinha essa mentalidade de Livro como Palavra e ele a expressou dizendo que "profecias e apostolados cessaram porque o livro está escrito e o livro contém TODA a revelação necessária para os cristãos". Discordei com ele na hora porque percebi que em seu espírito havia legalismo e letrismo, que ele estava apenas discernindo a Letra e não a Palavra.

O que isso tudo tem a ver com o que meu amigo disse?
Qual a relação entre as partes?

Toda.
Tudo.

A mesma mentalidade e espírito presentes no meu amigo é essa expressa pelo pastor e por milhares de cristãos no mundo que crêem que fora do Livro não há revelação, que apóstolos e profetas não existem mais como existiam antigamente, pois, segundo eles, os únicos profetas e apóstolos são aqueles que lêem, crêem e ensinam o livro com propriedade gramatical, exegética, teológica e de qualquer outra natureza parecida. Essa é uma mentalidade mais presente nos cristãos de origem histórica: presbiterianos, metodistas, batistas, anglicanos, embora haja sempre excessões nesses grupos.

Quando meu amigo disse: "Vamos ler o evangelho..." ele confundiu Evangelho com evangelho.

Você sabe qual a diferença?

A diferença é que Evangelho é a Palavra de Deus e evangelho são apenas livros que fazem parte do Novo Testamento que por sua vez também é parte do Livro chamada Bíblia.

Evangelho é a notícia da Graça disponível a todos os homens arrependidos.
evangelho é o registro histórico da vida de Jesus sob perspectivas diferentes de homens iguais em sua essência humana, mas diferentes de alma, isto é, acerca do modo de perceber o mundo.

O Evangelho é Absoluto.
Os evangelhos não.

O Evangelho é encontrado tanto dentro quanto fora da Bíblia.
Os evangelhos não, pois só podem ser encontrados no Livro.

O Evangelho é Palavra de Deus soprada e confirmada pelo seu Santo Espírito.
Os evangelhos são apenas testemunhos humanos acerca de Jesus e de fatos relacionados a sua pessoa que podem, dependendo do uso espiritual que se faz deles, também se TORNAR Evangelho na boca de quem tem Evangelho para anunciar.

Como ensinou um teólogo antigo a respeito, a Bíblia não é a Palavra, mas pode tornar-se Palavra dependendo do uso espiritual que se faz dela pelo homem que a lê e a ensina.

A BÍBLIA NÃO É A PALAVRA.
MAS PODE TORNAR-SE PALAVRA.
TORNA-SE PALAVRA QUANDO USADA DE ACORDO COM O ESPÍRITO DO EVANGELHO.

Entendeu?
Creu?
Ou ficou mais confuso ainda?

Nenhum comentário:

Postar um comentário