quinta-feira, 6 de junho de 2013

UM SEGREDO PARA CONSEGUIR AMAR O PRÓXIMO

"E o Verbo se fez carne e tabernaculou entre nós...não para nos julgar, mas para nos salvar"
Palavras do apóstolo João em seu livro evangélico

Só conseguiremos algum resultado em favor do nosso próximo, seja ele quem fôr, se adentrarmos seu mundo.

A maioria das pessoas só ouve quem de alguma maneira entrou em seu mundo, pisou o seu chão, calçou suas sandálias e observou o mundo através de sua perspectiva.

Resolvi escrever sobre esse assunto porque ouço muitas pessoas repetirem exaustivamente o essencial princípio de amor ao próximo. Entretanto, percebo que muitos, talvez a maioria, não sabe como praticar esse amor ao próximo, até porque cada próximo é um ser diferente do outro e cada ambiente e situação também. Para conseguir amar alguém com a qualidade de amor que esse alguém precisa e deseja receber nós necessitamos dessa introdução ao mundo alheio.

Então, obviamente, vêm algumas perguntas-chave a nossa mente:
"Como conseguiremos amar nosso próximo?
Que tipo de amor cada próximo precisa?
Como dar? O que dar? Quando dar?
O que reter? Como reter? Quando reter?
Como discernir meu próximo para conseguir amá-lo de uma maneira significativa para ele?"

Jesus nos ensina esse princípio e nos responde algumas perguntas.

Em primeiro lugar, ele mostra que para adentrar o mundo do nosso próximo é necessário renunciar, ainda que parcial e temporariamente, nosso próprio universo. Ele fez isso quando desceu do céu até esse planeta cheio de desamor e mentira. Em Filipenses está descrito de uma maneira simples e ao mesmo tempo completa os detalhes dessa renúncia:

"pois ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz".

Esse processo de esvaziamento é essencial para conseguirmos algum sucesso na entrada ao mundo do nosso próximo. Se nós não nos despirmos de boa parte de nossas convicções ou perspectivas da vida não teremos sucesso ao empreitar tal jornada. Sucumbiremos no meio do caminho. Será um fracasso nossa investida. Contudo, se fizermos uma "faxina" em nosso ser, ainda que seja temporária, essa limpeza será muito útil e contribuirá para alcançarmos resultados de identificação com o outro.

Tive uma experiência que serve como ilustração dessa verdade acima dita. Aconteceu quando abandonei o sistema religioso e meu cargo de reverendo de uma instituição religiosa histórica sesquicentenária. Nessa saída ficaram para trás minha mulher, meu bom salário, status, glória, segurança institucional, apoio de muitas pessoas que se admiravam da personagem encarnada por mim até então. Precisei me esvaziar, aliás, até hoje continuo precisando porque ás vezes o espírito de reverendo volta a atacar e só Deus me livra dele.

Em segundo lugar, para entrar no mundo do próximo é preciso adentrar seu ambiente, seu território, sua geografia, sua maneira de enxergar a vida, sua perspectiva de olhar sobre o mundo, o ângulo pelo qual ele enxerga a existência. Jesus também fez isso. Ele nasceu como humano, viveu como humano, experimentou todas as experiências comuns a todos os seres humanos, pois teve corpo de homem. Está escrito que ele "...se fez carne e habitou entre nós". Possuiu nossos ossos, nossos músculos, nossa pele, nossos órgãos; pisou nosso chão, respirou nossos ar, suou, urinou, defecou, teve dores, cansaço, fome, sede, sono, envelheceu e enfraqueceu embora não tenha experimentado tanto essa realidade da senilidade visto que morreu aos 33 anos, mas sentiu sim um pouco do desgaste físico natural que o corpo sente ao decorrer dos anos.

Só entraremos mesmo no mundo do nosso próximo se caminharmos junto com ele.
Morarmos na sua casa, conhecermos seu bairro, sua cidade, sua origem; comermos sua comida, acordarmos em seu horário, executarmos as tarefas diárias que ele executa, recebermos seu salário, etc.

Me lembrei agora do testemunho que consegui dar do Evangelho a alguns jovens meses atrás. Eram meus companheiros de trabalho numa empresa prestadora de serviços de call center. Eu passava por um período de muita necessidade financeira e por isso aceitei o trabalho mesmo sendo uma atividade muito estranha para mim e um salário muito baixo. Na convivência com os companheiros de trabalho percebi que logo quando descobriram minha vocação e história como pastor ficaram admirados de me ver trabalhando ao lado deles, visto que a maioiria dos pastores de nossa época não se submeteria a um tipo de trabalho como esse com remuneração baixíssima, pois a maioiria tem um ser ganancioso e cobiçoso além de preguiçoso, principalmente os adeptos da teologia da prosperidade. Assim, dei um testemunho que nenhum outro deu a eles, porque os outros só falam de cima de seus púlpitos, vestidos com seus ternos finos, com microfone na mão e vivem perambulando pela cidade em seus carros caros. Pela graça de Deus dei um bom testemunho e falei ao coração daqueles jovens naquele tempo.

Em terceiro lugar, o objetivo dessa entrada precisa ser nobre, bom, para contribuir, salvar e não para reparar imperfeições e emitir juízos e condenações a alma do próximo. Ás vezes entramos para arrebentar quem já está no chão, para esmagar a cana que já se encontra quebrada, como ensina o profeta antigo a respeito do que Jesus não fez conosco. Jesus veio para uma humanidade perdida e arrebentada com o propósito de salvação, recuperação, restauração, recomeço, restart. Diz o apóstolo a respeito dele que "...Deus enviou o seu filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele". Ele não veio para condenar, mas para oferecer perdão e dizer que Deus já nos perdoou desde antes de nós nascermos quando o Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo.

Só alcançaremos o coração do nosso próximo se entrarmos para ajudar com amor e não para oprimir a alma de quem já está sobrecarregado com as angústias desse tempo terrível. É melhor nem entrar do que entrar para oprimir, sobrecarregar, emitir juízos condenatórios. Se não tivermos amor e esse objetivo bem definido em nossa consciência ajudamos mais nos omitindo.

Em quarto lugar, quem se dispõe a tal tarefa precisa ter a consciência de que será aceito por uns, mas rejeitado por outros. Nunca haverá unanimidade. Com Jesus foi assim e com quem se dispor a ser seu discípulo e consequentemente a entrar no mundo alheio dos outros também pode se preparar para rejeições. Esse é o caminho dos apóstolos e profetas e não mudará por minha nem por sua causa, pois a natureza humana continua a mesma visto que a alma e o espírito humano não se modernizam, não perdem suas primitividades básicas de ser e existir. Uns aceitam outros não. Uns amam, outros odeiam.
É assim que é porque assim sempre foi e assim sempre será:

"Quem vem das alturas certamente está acima de todos; quem vem da terra é terreno e fala da terra; quem veio do céu está acima de todos e testifica o que tem visto e ouvido; contudo, ninguém aceita o seu testemunho. Quem, todavia, lhe aceita o testemunho, por sua vez testifica que Deus é verdadeiro".

Em quinto e último lugar, para entrar de verdade no mundo alheio atingindo significativamente a alma do outro é necessário ousadia. Só com ousadia entraremos de verdade no mundo das pessoas. É preciso intrepidez, cara de pau, correr o risco de ser rejeitado e jogado para o lado de fora de novo. Se não agirmos assim, principalmente nos casos de pessoas bem fechadas, não conseguiremos adentrar o mundo delas. Como alguns dizem, nessa hora, precisamos "Passar óleo de Peroba em nossa cara de pau e ir...". Com medo, mas com mais coragem do que receio.

A ousadia abre as portas de seres trancafiados por inúmeros motivos!

Jesus era ousado e muitas vezes entrou sem medo na intimidade de pessoas para produzir algo de bom dentro delas, uma mudança de dentro para fora.

Será que temos disposição para fazer tal jornada?
Será que temos humildade para sairmos de nosso mundinho confortável e ajudar alguém?
Será que vencemos a preguiça para mudar alguns hábitos em favor do outro?
Será que temos força para sermos rejeitados por alguns e talvez até pela maioria?
Será que temos coragem para correr o risco de passarmos constrangimentos para salvar alguém?

Que Deus nos dê disposição para tal empreitada.
Em nome de Jesus.
Amém!!!

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